Considera-se que a síndrome de Estocolmo possa ocorrer em um contexto no qual uma pessoa se encontra sob o controle ou influência de um agressor ou abusador, desenvolvendo uma ligação emocional ou simpatia por ele.
A síndrome de Estocolmo é um termo amplamente utilizado, no entanto, há debates e controvérsias sobre a sua natureza. Não se trata de diagnóstico psiquiátrico formal. A pesquisa sobre é baseada em número reduzido de casos.
Algumas vítimas, como Kristin Enmark, cuja situação deu origem ao termo, criticaram interpretações que fizeram de suas experiências. Ela defende que sua resposta ao sequestro foi uma estratégia racional para sobreviver, e não uma síndrome.
O termo foi cunhado após o assalto ao banco em Estocolmo, Suécia, em 1973, quando reféns defenderam em aspectos seus sequestradores após serem libertados. Conforme a conceituação, na síndrome de Estocolmo o indivíduo pode passar a ver seus algozes não como cruéis, mas como pessoas que estão do seu lado e no fundo desejam seu bem.
Em 1974, Patty Hearst, neta do magnata da imprensa William Randolph Hearst, foi sequestrada pelo grupo terrorista SLA. Meses depois, ela começou a participar de atividades com o grupo. Esse foi considerado um exemplo notório da síndrome.
A identificação com o agressor é compreendia como um mecanismo de defesa que tem relação com síndrome de Estocolmo, mas ocorre de modo mais inconsciente. Esse mecanismo de defesa foi estudado por Sándor Ferenczi e Anna Freud. Conforme Mezan (2018), na identificação com o agressor, a vítima não alimenta ódio contra quem lhe fez mal, mas contra si mesma, como se fosse culpa sua o que lhe aconteceu.
Ela assume como seus os desejos do agressor, como no caso de uma menina violada pelo padrasto sente culpa por tê-lo “seduzido” e passa a odiar seus próprios impulsos sexuais, ou considerar que tudo aquilo no fundo não é tão ruim (MEZAN, 2018).
A constante ameaça de violência pode levar a vítima a procurar agradar o captor para reduzir o risco de agressão. Uma pessoa pode dar reconhecimento a alguém visando a que este não lhe seja agressivo. Pequenos atos de bondade por parte dos sequestradores podem ser exageradamente valorizados pelas vítimas, reforçando o vínculo emocional.
Conforme a conceituação, em uma situação de extremo estresse e perigo, a vítima de sequestro pode desenvolver uma ligação emocional com o sequestrador como um mecanismo de sobrevivência. Vítimas começam a se identificar com seus captores, muitas vezes racionalizando ou justificando o comportamento dos sequestradores.
Essa identificação pode criar uma falsa sensação de segurança. Em situações de sequestro prolongado, as vítimas podem se tornar emocionalmente dependentes dos sequestradores, vendo-os como sua única fonte de conforto ou apoio.
A recuperação da síndrome de Estocolmo pode ser um processo longo e complexo, que geralmente requer psicoterapia para ajudar as vítimas a entender e processar seus sentimentos e experiências.
Referências bibliográficas
Enmark, K.; Wesslén, G. Jag blev Stockholmssyndromet. Copenhage: SAGA Egmont, 2020.
MEZAN, R. Sociedade, cultura, psicanálise. São Paulo: Blucher Karnac, 2018.