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O conceito de normalidade em psicopatologia.

Conforme citado por Dalgalarrondo (2008, p. 27), Campbell (1986) define a psicopatologia como o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental — suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação.


O conceito de saúde e de normalidade em psicopatologia é questão de grande controvérsia (ALMEIDA FILHO, 2000 apud DALGALARRONDO, 2008). Há vários critérios de normalidade e anormalidade em psicopatologia. A adoção de um ou outro depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional (CANGUILHEM, 1978 apud DALGALARRONDO, 2008).


Os critérios principais de normalidade utilizados em psicopatologia são:


Normalidade como liberdade


Conforme Vieira (2018), alguns autores existencialistas tratam que saúde está vinculada à possibilidade de transitar com graus de liberdade sobre o mundo, isto é, a doença é a fossilização destas possibilidades existenciais.


Normalidade como ausência de doença

Conforme esta concepção, normal, do ponto de vista psicopatológico, seria, então, aquele indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. Este critério é redundante e baseia-se em uma “definição negativa”, ou seja, define-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas, sim, por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta (ALMEIDA FILHO; JUCÁ, 2002 apud DALGALARRONDO, 2008). Embora num determinado caso possa ser um avanço do conhecimento saber o que uma coisa não é quando não se sabe o que é, nesse caso essa definição é considerada precária e falha.


Normalidade funcional


Baseados em aspectos funcionais, o fenômeno é considerado patológico quando produz sofrimento para o indivíduo e/ou para o seu grupo social (VIEIRA, 2018).


Normalidade como bem-estar


A Organização Mundial da Saúde definiu a saúde como o complemento entre o bem-estar físico, mental e social e não somente como ausência de doença. Conforme Dalgalarrondo (2008), esse é um conceito criticável por ser muito vasto e impreciso, pois bem-estar é algo difícil de definir objetivamente. Além disso, esse completo bem-estar físico, mental e social é tão utópico que poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”.


Normalidade subjetiva


O que vale aqui é a percepção subjetiva do sujeito sobre seu próprio estado de saúde. Dalgalarrondo (2008) diz que o ponto falho desse critério é que muitas pessoas que se sentem bem, “muito saudáveis e felizes”, como no caso de sujeitos em fase maníaca, apresentam, de fato, um transtorno mental.


Normalidade estatística


Segundo Dalgalarrondo (2008), trata-se de um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral (como peso, altura, tensão arterial, horas de sono, quantidade de sintomas ansiosos, etc.). O normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. Os indivíduos que se situam estatisticamente fora (ou no extremo) de uma curva de distribuição normal passam, por exemplo, a ser considerados anormais ou doentes. É um critério muitas vezes falho em saúde geral e mental, pois nem tudo o que é frequente é necessariamente “saudável”, e nem tudo que é raro ou infrequente é patológico.


Normalidade operacional


Na normalidade operacional define-se a priori o que é normal e opera-se conforme estas definições.


Normalidade ideal


Estabelece-se uma norma ideal do que, supostamente, é um sujeito sadio. Normal é aquilo adequado a determinado padrão funcional considerado ótimo ou ideal. A crítica que se faz a esse critério é que ele se baseia em normas socioculturais arbitrárias, as quais podem variar de um local para outro e se modificarem através dos tempos (VIEIRA, 2018).


Normalidade como processo


Conforme Dalgalarrondo (2008), neste caso, mais que uma visão estática, consideram-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. Esse conceito é particularmente útil em psiquiatria infantil, de adolescentes e geriátrica.





DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.


VIEIRA, Carlos. Depressão-Doença: o grande mal do século XXI. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.

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