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Nove inteligências da teoria das inteligências múltiplas.


Gardner (1995, p. 21) discorre que, numa visão tradicional, a inteligência é definida operacionalmente como a capacidade de responder a itens em testes de inteligência. A inferência, a partir dos resultados de testes, de alguma capacidade subjacente é apoiada por técnicas estatísticas que comparam respostas de sujeitos em diferentes idades. A aparente correlação desses resultados de testes através das idades e através de diferentes testes corrobora a noção de que a faculdade geral da inteligência, g, não muda muito com a idade ou com treinamento ou experiência. Ela é um atributo ou faculdade inata do indivíduo.


A teoria das inteligências múltiplas (IM), por outro lado, pluraliza esse conceito tradicional de inteligência. Uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural (GARDNER, 1995, p. 21).


A capacidade de resolver problemas permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a rota adequada para esse objetivo (GARDNER, 1995, p. 21).


De acordo com Gardner (1995, p. 21), a teoria das IM é elaborada à luz das origens biológicas de cada capacidade de resolver problemas. Somente são tratadas aquelas capacidades que são universais na espécie humana. Mesmo assim, a tendência biológica a participar numa determinada forma de solução de problemas também deve ser vinculada ao estímulo cultural nesse domínio.


Por exemplo, a linguagem, uma capacidade universal, pode manifestar-se particularmente como escrita em uma cultura, como oratória em outra, e como a linguagem secreta dos anagramas numa terceira (GARDNER, 1995, p. 21).


Gardner (1995, p. 22) discorre que as inteligências dos sujeitos considerados normais sempre funcionam combinadas, e qualquer papel adulto sofisticado envolverá uma fusão de várias delas.



Nove inteligências



Inteligência musical


De acordo com Gardner (2009, p. 44), a facilidade na percepção e na produção da música é, de muitas maneiras, análoga à inteligência linguística. Entre os subtipos identificáveis estão: a apreciação da melodia e da harmonia; a sensibilidade ao ritmo; a capacidade de reconhecer variações no timbre e na tonalidade; e, falando de modo mais holístico, a capacidade de captar a estrutura do funcionamento da música (variando da livre interação melódica característica do jazz à arquitetura altamente específica da sonata clássica).


A inteligência musical tem um lugar de destaque em quase qualquer tipo de apresentação pública, variando de comerciais de televisão a filmes, conferências, eventos atléticos e rituais religiosos (GARDNER, 2009, p. 44).



Inteligência espacial


Conforme Gardner (1994, p. 147), uma inteligência espacial intensamente aguçada prova ser um bem de valor inestimável em nossa sociedade. Em algumas ocupações, esta inteligência é essencial, por exemplo, para um escultor ou um matemático especializado em topologia.


Sem inteligência espacial desenvolvida, o progresso nestes domínios é difícil de imaginar e há muitas outras ocupações nas quais a inteligência espacial sozinha poderia não ser suficiente para produzir competência, mas onde ela proporciona muito do ímpeto intelectual necessário (GARDNER, 1994, p. 147).


As artes visuais utilizam esta inteligência no uso do espaço. Outros tipos de solução de problemas espaciais são convocados quando visualizamos um objeto de um ângulo diferente e no jogo de xadrez, por exemplo (GARDNER, 1995, p. 26).


As evidências da pesquisa do cérebro são claras e persuasivas. Um dano nas regiões posteriores direitas provoca prejuízo na capacidade de encontrar o próprio caminho em torno de um lugar, de reconhecer rostos ou cenas, ou de observar detalhes pequenos (GARDNER, 1995, p. 26).



Inteligência corporal-cinestésica


A inteligência corporal-cinestésica é, de certa maneira, análoga à inteligência espacial. Trata-se da capacidade de resolver problemas ou criar produtos usando o corpo todo ou partes do corpo. Não há dúvida de que essa forma de inteligência foi crucial na pré-história humana, sendo às vezes descrita como uma inteligência “instrumental” ou “tecnológica” (GARDNER, 2009, p. 46).


Para sobreviverem como caçadores, pescadores ou fazendeiros, para fazerem roupas, construírem abrigos, prepararem comida e se defenderem dos inimigos, os nossos predecessores precisavam usar habilmente o corpo (GARDNER, 2009, p. 46).


Gardner (1995, p. 24) discorre que a capacidade de usar o próprio corpo para expressar uma emoção (como na dança), jogar um jogo (como num esporte) ou criar um novo produto (como no planejamento de uma invenção) é uma evidência dos aspectos cognitivos do uso do corpo.



Inteligência lógico-matemática


Em 1983, Barbara McClintock ganhou o Prêmio Nobel de medicina ou fisiologia por seu trabalho em microbiologia. Seus poderes intelectuais de dedução e observação ilustram uma forma de inteligência lógico-matemática frequentemente rotulada como "pensamento científico" (GARDNER, 1995, p. 24).


Gardner (1994, p. 100) descreve que, em contraste com capacidades linguísticas e musicais, a competência que denomina "inteligência lógico-matemática" não se origina na esfera auditivo-oral. Ao contrário, esta forma de pensamento pode ser traçada de um confronto com o mundo dos objetos. Pois é confrontando objetos, ordenando-os, reordenando-os e avaliando sua quantidade que a criança pequena adquire seu conhecimento inicial e mais fundamental sobre o domínio lógico-matemático.



Inteligência linguística


Gardner (2009, p. 42) enuncia que, amplamente, a inteligência linguística envolve facilidade no uso da linguagem falada e escrita. Como acontece com todas as inteligências, há diversos “subtipos”, ou variedades, de inteligência linguística: a inteligência do indivíduo que é bom em aprender línguas estrangeiras, por exemplo, ou a inteligência do hábil escritor que consegue transmitir idéias complexas em uma prosa bem-escrita.


No mundo dos negócios, duas facetas da inteligência linguística são cruciais. Uma é encontrada no argumentador que consegue obter informações úteis pelo hábil questionamento e discussão com as pessoas; a outra é observada no retórico que consegue convencer os outros a seguir um curso de ação por meio de histórias, palestras ou exortações (GARDNER, 2009, p. 42).


Quando um amálgama de capacidades linguísticas se combina no mesmo indivíduo, ele provavelmente terá sucesso em diversos caminhos empresariais, talvez “sem sequer se esforçar” (GARDNER, 2009, p. 42).



Inteligência intrapessoal


A pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e efetivo de si mesma. Uma vez que esta inteligência é a mais privada, ela requer a evidência a partir da linguagem, da música ou de alguma outra forma mais expressiva de inteligência para que o observador a perceba funcionando (Gardner, 1995, p. 28).


De acordo com Gardner (2009, p. 49), a pessoa intrapessoalmente inteligente possui um bom modelo funcional de si mesma, é capaz de identificar sentimentos, objetivos, medos, forças e fraquezas pessoais e pode, nas circunstâncias mais felizes, usar esse modelo para tomar decisões sensatas em sua vida.


Quase todos os negócios envolvem trabalhar com outras pessoas, e aqueles indivíduos que possuem um bom conhecimento dos outros – em termos genéricos e específicos – têm uma vantagem singular. Quer a pessoa trabalhe com textos, com marketing ou relações públicas, seja treinador ou membro de uma equipe, a sensibilidade aos outros surge como um recurso crucial (GARDNER, 2009, p. 49).



Inteligência interpessoal


Segundo Gardner (1995, p. 27), a inteligência interpessoal está baseada numa capacidade nuclear de perceber distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e intenções.


Em formas mais avançadas, esta inteligência permite que alguém experiente perceba as intenções e desejos de outras pessoas, mesmo que elas os escondam. Essa capacidade aparece numa forma altamente sofisticada em líderes, professores, terapeutas e pais (Gardner, 1995, p. 27).


Todos os indícios na pesquisa do cérebro sugerem que os lobos frontais desempenham um papel importante no conhecimento interpessoal. Um dano nessa área pode provocar profundas mudanças de personalidade, ao mesmo tempo em que não altera outras formas de resolução de problemas (Gardner, 1995, p. 27).


A doença de Alzheimer, uma forma de demência pré-senil, parece atacar as zonas cerebrais posteriores, deixando as computações espaciais, lógicas e linguísticas severamente prejudicadas. No entanto, os pacientes com Alzheimer frequentemente continuam com uma aparência bem-cuidada, socialmente adequados e se desculpam constantemente por seus erros (Gardner, 1995, p. 27).


Em contraste, a doença de Pick, outra variedade de demência pré-senil com orientação mais frontal, provoca uma rápida perda das boas-maneiras sociais (Gardner, 1995, p. 27).



Inteligência naturalista


Conforme Gardner (2009, p. 47), a inteligência naturalista envolve as capacidades de fazer discriminações consequenciais no mundo natural: entre uma planta e outra, entre um animal e outro, entre variedades de nuvens, formações rochosas, configurações de mares, e assim por diante.


Nossos ancestrais não teriam sobrevivido se não pudessem diferenciar uma planta venenosa de outra nutritiva, um animal bom para comer de outro do qual seria melhor fugir imediatamente, um terreno, água ou formações montanhosas convidativos de outros perigosos (2009, p. 47).


Atualmente, ainda existem regiões do globo onde a sobrevivência depende da constante ativação da inteligência naturalista. E mesmo em nosso mundo pós-industrial, as pessoas que se dedicam à preparação de alimentos, à construção de barragens, à proteção do nosso ambiente ou à mineração de metais preciosos precisam utilizar suas capacidades naturalistas (2009, p. 47).


O que pode ser menos evidente, mas ainda mais consequencial, é a extensão em que a nossa sociedade consumista também depende da inteligência naturalista. A capacidade de distinguir um tênis ou suéter de outro e assim por diante, baseia-se em capacidades que detectam padrões, que em eras anteriores eram usados para distinguir variedades de lagartos, arbustos ou rochas (2009, p. 47).


Mesmo que alguém esteja privado de um ou mais dos órgãos sensoriais, como o famoso naturalista cego Geermat Vermij, ainda pode fazer distinções consequentes. Nesse sentido, a inteligência naturalista (como as outras inteligências) é “suprassensorial” (2009, p. 48).



A inteligência existencial


A inteligência existencial não tem um dogma ou uma crença fixa conectado a ela. Ela se refere aos indivíduos que possuem uma capacidade maior do que a normal de ter visões, influenciar as pessoas eticamente, refletir sobre questões religiosas e filosóficas, e engajar-se em outras buscas relacionadas com as questões essenciais da vida (GARDNER et al., 2010, p. 38).


Desse modo, existe algo na teoria das IM com que cada fé religiosa pode se identificar, em termos de um modelo científico bem fundamentado (GARDNER et al., 2010, p. 38).



Crítica à teoria das inteligências múltiplas


John White, no Reino Unido, parece ter dedicado uma parte importante de sua carreira a atacar as IM (GARDNER et al., 2010, p. 23).


Podemos reconhecer os méritos de John White, filósofo da educação inglês, e de outros autores, por propor um meme que se contraponha ao das IM, seja ele um retorno a uma única inteligência, seja outra forma de pensar sobre uma pluralidade de inteligências (GARDNER et al., 2010, p. 23).


Um desafio é levantado por John White (1998, 2006 apud GARDNER et al., 2010, p. 207), ele afirma que a teoria confunde valores de base cultural relacionados com atividades intelectuais específicas com aptidões e características biológicas fixas.


Acredita que a teoria produz sua própria versão de rigidez na avaliação da inteligência e sugere que a singularidade das inteligências individuais pode ser questionável. Fundamentalmente, segundo White, a teoria deve ser testada empiricamente. Sem critérios comprovados empiricamente, tal teste não é possível. Portanto, a única validade que pode ser alcançada é a priori, que ele sugere ser insuficiente (White, 2006 apud GARDNER et al., 2010, p. 207).




Referências bibliográficas



GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Tradução Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.


GARDNER, Howard et al. Inteligências múltiplas ao redor do mundo. Tradução Roberto Cataldo Costa e Ronaldo Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2010.


GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Tradução de Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.


GARDNER, Howard. Mentes que mudam: a arte e a ciência de mudar as nossas idéias e a dos outros. Tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed/Bookman, 2009.

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