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Funções psicológicas e suas combinações com as atitudes.


Jung identificou quatro funções psicológicas fundamentais: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Cada função pode ser experienciada tanto de uma maneira introvertida quanto extrovertida (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 47).


Conforme uma definição sucinta de Jung, a sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que uma coisa existe; o pensamento nos diz o que é essa coisa; o sentimento nos informa se é agradável ou não; e a intuição nos diz de onde vem e para onde ela vai (JUNG, 1964, p. 61 apud HALL e NORDBY, 2005, p. 87).


Esses quatro tipos funcionais correspondem aos recursos óbvios através dos quais a consciência obtém sua orientação para a experiência (JUNG, 1964, p. 61 apud HALL e NORDBY, 2005, p. 88).



Tipos funcionais

Conforme Fadiman e Frager (1986, p. 48), Jung classifica a sensação e a intuição como formas de apreender informações, ao contrário das formas de tomar decisões — pensamento e sentimento.


A sensação refere-se a um enfoque na experiência direta, na percepção de detalhes, de fatos concretos, o que uma pessoa pode ver, olfatar, tocar. Os tipos sensitivos tendem a responder à situação imediata, e lidam efetiva e eficientemente com crises e emergências (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 48).


Sobre a intuição, Silveira (1981) discorre que é uma percepção via inconsciente. É apreensão da atmosfera onde se movem os objetos, de onde vêm e qual o possível curso de seu desenvolvimento.


A intuição é um modo de compreender percepções em termos de possibilidades, experiência anterior, metas futuras e processos inconscientes (FADIMAN e FRAGER, 2004, p. 95).


As implicações da experiência são mais importantes para os intuitivos do que a experiência propriamente dita. Pessoas fortemente intuitivas adicionam significado a suas percepções tão rapidamente que muitas vezes não conseguem distinguir suas interpretações dos dados sensórios brutos (FADIMAN e FRAGER, 2004, p. 95).


Os intuitivos integram novas informações rapidamente, automaticamente relacionando a experiência anterior e a informação pertinente à experiência imediata (FADIMAN e FRAGER, 2004, p. 95).


De acordo com Fadiman e Frager (1986, p. 48), Jung via o pensamento e o sentimento como maneiras alternativas de elaborar julgamentos e tomar decisões.


Tipos sentimentais são orientados para o aspecto emocional da experiência. Eles preferem emoções fortes e intensas ainda que negativas, a experiências “mornas” (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 48).


Os tipos reflexivos (aqueles indivíduos em quem o pensamento é função predominante) são os maiores planejadores; entretanto, tendem a agarrar-se a seus planos e teorias, ainda que sejam confrontados com nova e contraditória evidência (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 48).


O pensamento está relacionado com julgamentos derivados de critérios impessoais, lógicos e objetivos (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 48).


Função superior e inferior

Todos possuímos as quatro funções, entretanto sempre uma dentre elas se apresenta mais desenvolvida e mais consciente que as três outras. Daí ser chamada função principal (SILVEIRA, 1981).


Cada indivíduo utiliza de preferência sua função principal, pois manejando-a consegue melhores resultados na luta pela existência. Uma segunda função serve de auxiliar à principal, possuindo grau de diferenciação maior ou menor (SILVEIRA, 1981).


Quanto mais desenvolvidas e conscientes forem as funções dominante e auxiliar, mais profundamente inconscientes serão seus opostos (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 48).


A terceira função quase sempre não vai além de um desenvolvimento rudimentar e a quarta permanece, de ordinário, num estado mais ou menos inconsciente. Por este motivo é denominada função inferior (SILVEIRA, 1981).


Esta função é a menos consciente e a mais primitiva e indiferenciada. Ela pode representar uma influência demoníaca para algumas pessoas, pelo fato de terem tão pouco entendimento ou controle sobre ela (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 49).


Por exemplo, tipos cuja função mais forte é a intuitiva podem achar que os impulsos sexuais parecem misteriosos ou até perigosamente fora de controle, pelo fato de haver excessiva falta de contato com sua função sensitiva (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 49).


Conforme Fadiman e Frager (1986, p. 48), a tipologia de Jung é especialmente útil no relacionamento com os outros, ajudando-nos a compreender os relacionamentos sociais; ela descreve como as pessoas percebem de maneiras alternadas e usam critérios diferentes ao fazer julgamentos e agir.


Por exemplo, oradores intuitivos-sentimentais não possuem estilo de exposição lógica, firmemente organizada e detalhada como oradores reflexivos-sensitivos (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 48).


É provável que em seus discursos haja divagações, que apresentem o sentido de um tema abordando-o sob vários ângulos diferentes, ao invés de desenvolvê-lo sistematicamente (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 48).



Imagem da obra de FADIMAN e FRAGER



Combinação de atitudes e funções.


Pensamento extrovertido e introvertido.

Conforme Silveira (1981), o pensador extrovertido faz do pensamento objetivo a paixão dominante de sua existência. Ele poderá se colocar com entusiasmo pela liberdade, porém, acossado por alguém que lhe peça para dizer o que entende por "liberdade", não se interessará por definir o conceito.


Este tipo gosta de fazer prevalecer seus pontos de vista que coordena de maneira rígida e impessoal tornando-se muitas vezes autoritário, principalmente no circulo de sua família (SILVEIRA, 1981).


Embora capaz de afeições profundas, o pensador extrovertido tem grande dificuldade em expressá-las (SILVEIRA, 1981).


Já o pensador introvertido, conforme Hall e Nordby (2005, p. 88), reflete mais a respeito do mundo interior e mental, no lugar de formular sobremaneira pensamentos extraídos do mundo exterior. Ele é mais criativo do que o pensador extrovertido.


Pode-se dizer que o pensador introvertido se compraz em lidar com as ideias por elas mesmas. Ele pode investigar o mundo exterior em busca da confirmação para as suas ideias. Ou pode ruminar ideias sem levar em conta se têm alguma importância para o mundo exterior (HALL e NORDBY, 2005, p. 88).


Em Ciência, o pensamento introvertido se denomina pensamento dedutivo por oposição ao pensamento indutivo no qual as ideias ou conceitos, ou hipóteses decorrem da informação factual e nela se baseiam (HALL e NORDBY, 2005, p. 88).



Sentimento extrovertido e introvertido


Conforme Silveira (1981), o tipo sentimental extrovertido é acolhedor e afável. Irradia calor comunicativo que torna o indivíduo deste tipo o centro de amigos numerosos. Mas ele sabe fazer a correta estimativa desses amigos, facilmente pesa suas qualidades positivas e negativas, e assim não forma ilusões sobre as pessoas com quem convive.


Esta capacidade de segura avaliação afetiva poupa-o das decepções que são as habituais agruras do tipo pensamento, nem lhe acontece, como àquele, ser subitamente submerso por explosões de sentimentos (SILVEIRA, 1981).


Permanece, em geral, fiel aos valores que lhe foram inculcados desde a infância. As manifestações de sua afetuosidade são exuberantes e, não raro, parecem excessivas aos olhos de outros tipos (SILVEIRA, 1981).


Quando o tipo sentimento extrovertido entrega-se à vida pública pode tornar-se um grande líder, fascinando pelo apelo emocional de sua personalidade mais que pela originalidade de seu pensamento (SILVEIRA, 1981).


Seu calcanhar de Aquiles é o pensamento, sobretudo o raciocínio abstrato. A matemática, a reflexão filosófica, são áreas onde este tipo não se move à vontade. Prefere a medicina, as ciências diretamente ligadas ao homem, a poesia lírica, a música romântica, enfim as coisas que o toquem na esfera afetiva (SILVEIRA, 1981).


Essa pessoa tão transbordante de calor humano surpreende muitas vezes seus íntimos quando formula julgamentos críticos extremamente duros e frios, com o caráter de sanções definitivas. Se o controle da função superior falha (desgaste, cansaço, doença), os pensamentos negativos emergem (SILVEIRA, 1981).


E, por serem produzidos pela função inferior de um extrovertido, têm as marcas da introversão, voltando-se principalmente contra o próprio indivíduo que se vê, sem motivos objetivos, destituído de todo valor, incapaz para quaisquer realizações (SILVEIRA, 1981).


Entenda-se que não se trata aqui de inferioridade da função pensamento num sentido quantitativo, mas de uma função que não foi afiada pelo uso, que não se diferenciou suficientemente (SILVEIRA, 1981).


Em relação ao sentimento introvertido, Hall e Nordby (2005, p. 88) escrevem que, tal como o pensamento introvertido, o sentimento introvertido é suscitado por condições internas ou subjetivas.


Os sentimentos introvertidos tendem a ser originais, incomuns, criativos, e por vezes considerados bizarros porque se afastam das convenções (HALL e NORDBY, 2005, p. 88).


As pessoas deste tipo apresentam-se calmas, retraídas, silenciosas. São pouco abordáveis e difíceis de compreender porque, sendo dirigidas por forças subjetivas, suas verdadeiras intenções permanecem ocultas. Daí algo de enigmático envolvê-las (SILVEIRA, 1981).


Seus sentimentos são finamente diferenciados, mas não se exprimem externamente. Desdobram-se em profundeza. São secretos e intensos. É um encontro difícil o da intuição inferior com a sensação superior. Quando um flash de luz, uma fantasia arquetípica concernente a acontecimentos futuros irrompem no campo da consciência, os tipos sensação sofrem vertigens (SILVEIRA, 1981).


Essas percepções de ideias ou de imagens em movimento teriam de ser assimiladas justo pela função especialmente apta para trabalhar com dados reais, estáveis e presentes, o que se torna de fato uma contradição perturbadora (SILVEIRA, 1981).



Sensação extrovertida e introvertida


Na sensação extrovertida, as percepções representam diretamente os objetos; são fatos do mundo exterior. No segundo caso, as percepções são fortemente influenciadas pelos estados psíquicos; elas parecem emergir de um ponto qualquer no interior da psique (HALL e NORDBY, 2005, p. 89).


Conforme Silveira (1981), o tipo sensação extrovertida compraz-se na apreciação sensorial das coisas. Se vai a uma reunião social saberá descrever como estavam vestidas as pessoas e imediatamente reconhecerá a qualidade dos móveis, dos tapetes, etc.


Ele parece segurar os objetos entre o eixo de seus olhos como entre as hastes de uma pinça, diz Jung. Ama os prazeres da mesa, o conforto das habitações. Relaciona-se de modo concreto e prático aos objetos exteriores. Adapta-se facilmente às circunstâncias, possuindo seguro sentido da realidade (SILVEIRA, 1981).


O tipo sensação extrovertida repele as questões teóricas de caráter geral. O importante para ele é a descrição minuciosa, exata, dos objetos. Procura sempre explicar os fenômenos pela sua redução a causas objetivas já bem estabelecidas (SILVEIRA, 1981).


As hipóteses de interpretações, no domínio científico, parecem-lhe sempre fantasiosas. E a atenção às manifestações da vida subjetiva se lhe afigura sintoma de doença ou, pelo menos, coisa inútil. É eficiente e prático, mas, como a intuição é a sua função inferior, acontece frequentemente que não percebe o desdobramento de possibilidades novas (SILVEIRA, 1981).


A intuição pouco desenvolvida não somente falha, mas também muitas vezes segue pistas erradas ou apreende de preferência as possibilidades negativas dos objetos. Sendo a função inferior de um extrovertido, será necessariamente introvertida e por isso elabora de preferência premonições sobre doenças e infortúnios que possam cair sobre o indivíduo (SILVEIRA, 1981).


Este quadro apresenta-se quando, por exemplo, o tipo sensação extrovertida embriaga-se, tem uma astenia gripal ou se sente demasiado fatigado. Então revela seu outro lado (SILVEIRA, 1981).


Segundo Hall e Nordby (2005, p. 91), como todos os introvertidos, o tipo sensação introvertida se mantém distante dos objetos exteriores, mergulhando em suas próprias sensações psíquicas. Considera o mundo desinteressante frente às próprias sensações interiores.


É-lhe difícil expressar-se a não ser através da arte, mas o que ele produz tende a ser destituído de significado. Aos olhos dos outros, pode parecer calmo, passivo e controlado, pode ser considerado pouco interessante por ser deficiente de pensamento e sentimento (HALL e NORDBY, 2005, p. 91).



Intuição extrovertida e introvertida


Conforme Hall e Nordby (2005, p. 91), as pessoas do tipo intuição extrovertida se caracterizam pela volubilidade, e pela instabilidade; elas pulam de uma situação para outra a fim de descobrir novas possibilidades no mundo exterior. Estão sempre em busca de novos mundos que possam conquistar antes mesmo de terem conquistado os antigos.


As atividades rotineiras as enfadam; a novidade é o sustentáculo de suas existências. Magoam involuntariamente as outras pessoas por sua falta de interesse contínuo. Entregam-se a inúmeros passatempos que bem depressa as aborrecem e só com dificuldade conservam um emprego (HALL e NORDBY, 2005, p.92).


Este tipo está sempre antevendo novas possibilidades, coisas que ainda não assumiram formas definidas no mundo real. No campo da Ciência, está sempre interessado pelas aquisições mais inovadoras e no campo da arte pode ser capaz de descobrir um pintor, hoje desconhecido, que será aceito como um gênio daqui a 30 anos (SILVEIRA, 1981).


Em relação ao tipo intuitivo introvertido, Hall e Nordby (2005, p.) escreveram que, para os amigos, ele é muitas vezes um enigma; para ele mesmo, é um gênio incompreendido. Não estando em contato com a realidade externa nem com as convenções, tem dificuldade de comunicar efetivamente com os outros.


Este tipo é sensível à atmosfera dos lugares e às possibilidades novas que as coisas possam oferecer, mas não se sente atraído a seguir as pistas que seu faro, de passagem, apreende no mundo real. O exterior interessa-o muito secundariamente, pois sua função principal está voltada para o interior. As múltiplas solicitações da realidade externa, quando excessivas, chegam a ser vivenciadas por este tipo como algo torturante (SILVEIRA, 1981).




Referências


FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Personalidade e crescimento pessoal. Tradução: Daniel Bueno. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.


FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da personalidade. Tradução: Odette de Godoy, Camila Pedral Sampaio, Sybil Safdié. São Paulo: HARBRA, 1986.

HALL, Calvin; NORDBY, Vernon. Introdução à psicologia junguiana. Tradução: Heloysa de Lima Dantas. 8. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.

SILVEIRA, Nise. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.




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