Conforme Koffka (1975), a percepção não se constitui na mera soma de dados sensoriais recebidos passivamente pelo indivíduo. Ao contrário, é um processo ativo e sempre se refere a todos (holos) organizados sob uma forma ou estrutura de conjunto, uma Gestalt, cujas partes, se tomadas separadamente, não apresentam as mesmas características do todo. A percepção está submetida a certas leis (lei do fechamento, lei da semelhança, etc.) que fazem uma figura emergir de um fundo, o qual, ao mesmo tempo, a constitui e a circunscreve.
A escola gestáltica estendeu o fenômeno que pode ser exemplificado pela imagem acima para descrever a maneira pela qual um organismo seleciona o que é de seu interesse num dado momento. Para um homem sedento, um copo de água emerge como figura e as duas cabeças de perfil como fundo. A percepção adapta-se, capacitando o sujeito a satisfazer a necessidade. Uma vez satisfeita a necessidade, a percepção do que é figura e do que é fundo provavelmente se modificará de acordo com uma mudança nos interesses e necessidades dominantes (MAYER,1986).
D’Acri, Orgler e Ticha (2012) acreditam que a clara compreensão da abrangência e do significado do fundo é de fundamental importância na investigação da constituição da subjetividade. Estudos mais recentes na área vêm implementando o interesse pelo fundo, investigando o campo total em que se dão as experiências vividas.
A terapia gestáltica busca restabelecer a fluidez do processo de formação figura/fundo através da análise das estruturas internas da experiência presente. No processo terapêutico, encontra-se frequentemente ou uma rigidez (fixação) ou uma falta de formação da figura (repressão) (D’ACRI, ORGLER e TICHA, 2012).
Lei/Princípio do fechamento da Gestalt.
Esse princípio refere-se à tendência da nossa percepção em completar ou fechar imagens que na verdade não estão fechadas. Um exemplo é quando a percepção tende a ver palavras completas mesmo que tenha lacunas ou esteja faltando informações.
Abaixo, mais duas imagens que podem exemplificar.
“A tensão surgida da necessidade de um fechamento é chamada frustração, o fechamento é chamado satisfação” (Perls).
A Gestalt-terapia não investiga o passado com a finalidade de procurar traumas ou situações inacabadas, mas convida o paciente simplesmente a se concentrar para tomar-se consciente de sua experiência presente, pressupondo que os fragmentos de situações inacabadas e problemas não resolvidos do passado emergirão inevitavelmente como parte desta experiência presente (MAYER,1986).
Princípio da semelhança.
Conforme tal princípio, tendemos a agrupar coisas quando parecem semelhantes.
D’ACRI, Gladys; ORGLER, Sheila; TICHA, Patrícia. Dicionário de Gestalt-Terapia. 2. ed. São Paulo: Summus, 2012.
KOFFKA, Kurt. Princípios de psicologia da Gestalt. São Paulo: Cultrix, 1975.
MAYER, Elizabeth. Frederick S. Perls e a Gestalt-terapia. In: FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da personalidade. Tradução: Odette de Godoy, Camila Pedral Sampaio, Sybil Safdié. São Paulo: HARBRA, 1986.
PERLS, Fritz. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. São Paulo: Summus. 1977