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Etapas do desenvolvimento psicossocial conforme Erik Erikson.


O cerne do trabalho de Erikson é seu modelo de desenvolvimento humano em oito estágios, que realça o aspecto social e estende o pensamento psicanalítico para além da infância a fim de abranger todo o ciclo de vida do ser humano (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 198).


Cada estágio possui componentes biológicos, psicológicos e sociais e baseia-se nos estágios que o precederam (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 198).


Resoluções bem-sucedidas dos conflitos de um estágio contribuem para soluções dos conflitos que irão aparecer nos estágios futuros. Ainda que ocorram experiências desafortunadas em etapas maduras, a saúde mental pode sofrer oscilações negativas propiciadas por tais experiências (SCHARF, 1999, p. 90).


Os oito estágios do desenvolvimento psicossocial conforme Erikson são estes:


1. Confiança básica versus desconfiança básica


É preciso um pouco de desconfiança para se proteger do perigo. Todavia, é importante que a criança desenvolva confiança pelo mundo e por pessoas (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 61).


Erikson (1971 apud SCHARF, 1999, p. 95) observa que a confiança se instala no bebê quando a mãe atende de modo satisfatório às suas necessidades primárias: procurar o mamilo, sugar e ingerir o alimento.


Se uma criança vivencia uma falta significativa na recepção de cuidados e caso suas necessidades não sejam adequadamente atendidas, poderá acontecer de ela não aprender a confiar em seu ambiente. Cuidados inconsistentes ou intermitentes também podem levar a uma falta de confiança (CASH, 2018, p. 181).


2. Autonomia versus vergonha e dúvida


Este próximo estágio acontece na época da maturação muscular e com a concomitante capacidade de segurar ou soltar. Neste estágio, as crianças adquirem uma variedade de capacidades físicas e mentais (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 201).


Scharf discorre (1999, p. 95) que, por ocasião do desmame, amplia-se o processo de separação psicológica da mãe, levando a uma primeira aquisição de autonomia do bebê. A ampliação desta autonomia é decorrência do ganho de autoconfiança e do uso de símbolos pela criança como a palavra "não".


Algumas crianças voltam anseio por controle contra si mesmas, desenvolvendo uma consciência rígida e exigente (…), o que muitas vezes acarreta uma forte sensação de vergonha ou dúvida sobre si próprias (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 202).


3. Iniciativa versos culpa


Neste estágio, as ações passam a conter maior sentido de autoiniciativa (CASH, 2018, p. 182). Conforme Fadiman e Frager (2008, p. 202), nele a criança aprende o valor do planejamento antecipado e começa a desenvolver um senso de direção e propósito. Este estágio é análogo à fase fálica de Freud.


A criança experimenta maior mobilidade e curiosidade intelectual, significativo desenvolvimento da linguagem e da imaginação, e um sentido crescente de domínio e responsabilidade (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 202).


Este novo senso de domínio é temperado por sentimentos de culpa (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 202). A culpabilidade está relacionada ao Superego, trata-se de uma estrutura que se refere aos aspectos normativos e punitivos (PAZ, 1979 apud SCHARF, 1999, p. 90).


A nova liberdade e a afirmação de poder da criança quase inevitavelmente criam ansiedade (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 202).


A criança desenvolve uma consciência, uma atitude parental que favorece a auto-observação, o autogoverno, e a punição de si própria. Neste estágio, a criança precisa aprender a definir limites (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 202).


4. Diligência versus inferioridade


O sentimento de inferioridade ou depreciação está relacionado com uma grande distância entre o Ego Real e o Ideal do Ego (SCHARF, 1999, p. 90).


Este quarto estágio do desenvolvimento psicossocial focaliza-se na produtividade versus inferioridade. A terceira infância é o tempo em que as crianças devem aprender habilidades valorizadas em sua sociedade (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 357).


Em nossa cultura, inicia-se a vida escolar; em outros sistemas sociais, a criança pode tornar-se um aprendiz ou um assistente de trabalho do pai ou da mãe (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 203).


A resolução bem-sucedida desse estágio tem a ver com uma visão de si mesmo como capaz de dominar certas habilidades e realizar tarefas (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 357).


Se as crianças se sentem inadequadas comparadas com seus pares, elas podem retrair-se. Se, por outro lado, elas tornam-se diligentes demais, elas podem negligenciar as relações sociais e transformar-se em compulsivas pela produtividade (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 357).


Conforme Fredricks e Eccles (2002 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 357), os pais têm grande influência nas crenças de uma criança sobre competência. Em um estudo longitudinal de 514 crianças norte-americanas de classe média, as crenças dos pais sobre a competência de seus filhos em matemática e esportes estavam fortemente associadas às crenças dos filhos.


5. Identidade versus confusão de identidade


Durante a terceira infância, as crianças adquirem as habilidades necessárias para obter sucesso em suas respectivas culturas. Quando adolescentes, elas precisam encontrar maneiras de usar essas habilidades (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 422).


Quando os jovens têm problemas para fixar-se em uma identidade ocupacional ou, quando suas oportunidades são artificialmente limitadas, eles correm risco de apresentar comportamento com sérias consequências negativas (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 422).


A principal tarefa da adolescência, dizia Erikson (1968 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 422), é confrontar a crise de identidade versus confusão de identidade, de modo a tornar-se um adulto singular com uma percepção coerente do self e com um papel valorizado na sociedade.


Conforme Fadiman e Frager (2008, p. 204), o adolescente, que tende a sofrer de algum tipo de confusão de papel, pode ter dificuldade para imaginar um papel ocupacional apropriado ou encontrar um lugar significativo na sociedade.


Uma incapacidade de “segurar” e desenvolver um sentimento de identificação com um indivíduo ou modelo de papel cultural que ofereça inspiração e orientação pode provocar um período de insegurança (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 204).


Outra reação comum é a identificação excessiva (ao ponto de aparentemente perder a identidade) com heróis da cultura jovem ou com líderes de grupos fechados (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 204).


O adolescente muitas vezes sente-se isolado, vazio, ansioso ou indeciso. Com a pressão para tomar importantes decisões, por vezes o adolescente sente-se incapaz de tomá-las e até resiste a isso (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 204).


De acordo com Erikson (1982 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 422 a 423), os adolescentes que resolvem a crise de identidade satisfatoriamente desenvolvem fidelidade, que é definida por Erikson como lealdade constante ou um sentimento de integração com uma pessoa amada ou com amigos e companheiros.


Fidelidade também pode ser uma identificação com um conjunto de valores, uma religião, um movimento político, uma busca criativa ou um grupo étnico (ERIKSON, 1982 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 422 a 423).


A fidelidade é uma extensão da confiança. Na primeira infância, é importante que a confiança nos outros supere a desconfiança; na adolescência, torna-se importante que a própria pessoa seja confiável (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 423).


A identidade, segundo Erikson (1982 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 422), forma-se quando os jovens resolvem três questões importantes: a escolha de uma ocupação, a adoção de valores sob os quais viver e o desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória.


Papalia, Feldman e Martorell (2013 p. 423) discorrem que na teoria de Erikson um homem não é capaz de estabelecer uma intimidade real até ter adquirido uma identidade estável, enquanto as mulheres se definem através do casamento e da maternidade (algo que talvez fosse mais verdadeiro na época em que Erikson desenvolveu sua teoria do que na atualidade).


Segundo sua teoria, as mulheres (ao contrário dos homens) desenvolvem a identidade por meio da intimidade, não antes dela. Essa orientação masculina da teoria de Erikson é alvo de críticas (PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL 2013, p. 423).


Ainda assim, seu conceito de crise de identidade inspirou muitas pesquisas valiosas. Ele baseou-se em parte em sua experiência pessoal para desenvolver tal conceito (PAPALIA, FELDMAN E MARTORELL 2013, p. 422 a 423).


6. Intimidade versus isolamento


Se os adultos jovens não conseguem assumir compromissos pessoais profundos com os outros, dizia Erikson (1982 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 489), eles correm o risco de tornarem-se excessivamente isolados e absorvidos em si mesmos. No entanto, eles necessitam de algum isolamento para refletirem sobre suas vidas.


À medida que trabalham para resolver demandas conflitantes de intimidade, competitividade e distância, eles desenvolvem um sentido ético (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 489).


Relacionamentos íntimos demandam sacrifício e compromisso. Adultos jovens que desenvolveram um forte sentido do self durante a adolescência estão em melhor posição para ter um relacionamento significativo com outra pessoa (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 489).


A resolução deste estágio resulta no amor: a devoção mútua entre parceiros que escolheram compartilhar suas vidas, ter filhos e ajudá-los a alcançar seu próprio desenvolvimento saudável (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 489).


De acordo com Erikson (1982 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 489), uma decisão de não cumprir o impulso procriador natural tem consequências sérias para o desenvolvimento.


Sua teoria é criticada por excluir pessoas solteiras, homossexuais e sem filhos de seu esquema de desenvolvimento saudável (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013 p. 489).


7. Geratividade (produtividade) versus estagnação


Neste estágio, podem ser mais intensos o desejo de deixar um legado e ter um impacto nos mais jovens e a necessidade de sentir como se estivesse orientando a próxima geração (CASH, 2018, p. 183).


A menos que a esfera de nosso cuidado e produtividade se alargue, somos vitimados por uma sensação de aborrecimento e estagnação (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 205).


Este estágio geralmente abrange a maior parte da nossa vida adulta. O comprometimento íntimo com os outros se alarga para um interesse mais geral em orientar e apoiar a próxima geração (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 205).


Fadiman e Frager (2008, p. 205) discorrem que a geratividade inclui o interesse pelas ideias e produtos que criamos e pela prole. Ela inclui produtividade e criatividade no trabalho e em nossas vidas pessoais.


“O simples fato de ter e querer filhos não garante a geratividade” (Erikson, 1963, p. 267 apud FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 205).


Somos seres que ensinam e aprendem. A criação é importante, assim como garantir a constante saúde e manutenção de nossas criações, ideias e princípios. As instituições sociais tendem a reforçar a função da geratividade (FADIMAN e FRAGER, 2008, p. 205).


8. Integridade versus desespero


Cash (2018, p. 183) discorre que à medida que a vida vai gradualmente desacelerando e a velhice começa a aparecer, muitas vezes às pessoas param para refletir sobre tudo o que conseguiram alcançar na vida. Elas refletem se suas vidas foram bem vividas ou não.

Este estágio ocorre quando as pessoas da vida adulta tardia adquirem um senso de integridade do ego pela aceitação da vida que tiveram, e assim podem aceitar a morte, ou se entregam ao desespero pela impossibilidade de reviver suas vidas (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).


A sabedoria é a virtude que pode se desenvolver nessa etapa, um “interesse informado e imparcial pela vida em si diante da morte” (ERIKSON, 1985, p. 61 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).


Sabedoria, disse Erikson, significa aceitar a vida que se viveu sem maiores arrependimentos, isto é, sem ficar preso ao que “deveria ser feito” ou “poderia ter sido”. Isso significa aceitar imperfeições em si próprio, nos pais, nos filhos e na vida (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).


Embora a integridade deva superar o desespero para que essa etapa seja resolvida com êxito, Erikson afirmava que algum desespero é inevitável (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).


As pessoas têm necessidade de se lamentar. Não apenas pelas próprias desventuras e oportunidades perdidas, mas pela vulnerabilidade e transitoriedade da condição humana (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).


Erikson acreditava, porém, que, mesmo quando as funções do corpo enfraquecem, as pessoas devem manter um “envolvimento vital” na sociedade (PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).


Com base em estudos feitos sobre as histórias de vida de octogenários, ele concluiu que a integridade do ego resulta não somente da reflexão sobre o passado, mas de contínuos estímulos e desafios (ERIKSON et al.,1986 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).


Por exemplo, através de atividade política, de programas de manutenção da boa forma, do trabalho criativo, ou através de relacionamentos com os netos, etc. (ERIKSON et al.,1986 apud PAPALIA, FELDMAN e MARTORELL, 2013, p. 607).



Referências

CASH, Adam. Psicologia para leigos. Tradução: Alexandra Toste. 2ª ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018.


FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Personalidade e crescimento pessoal. Tradução: Daniel Bueno. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.


PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D.; MARTORELL, G. Desenvolvimento humano. Tradução: Cristina Monteiro e Mauro de Campos. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.


SCHARF, Lázaro G. Psicoterapia psicodinâmica e o ciclo da vida. In: Leite Netto, O. F. (org.). A psicoterapia na instituição psiquiátrica: relatos de vivências da equipe do serviço de psicoterapia do instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. São Paulo: Ágora, 1999.



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